domingo, 16 de outubro de 2011

Rotina



Não sou de prestar muita atenção nas coisas, mas às vezes um movimento ou olhar pode revelar muito, mais do que uma biografia não autorizada.A gente passa por entre as pessoas ensimesmadas ensimesmado. Nunca sabe realmente o que se passa pela cabeça das pessoas. É até estranho quando alguma nos olha. Foi assim quando vi o velho.
Não precisei olhar duas vezes para ver que aquele velho cabisbaixo que andava em minha direção já caminhava a tanto tempo que esquecera aonde ia. Seus joelhos tremiam a cada passo. Seus cabelos ralos poderiam contar muitas histórias, a maioria tão banal. Todo mundo tem histórias. Mas e daí? Sempre existem aquelas que valem um conto.
Num instante, ele pára.
Continuo observando o velho , vejo agora sua face. Ele parece ter acordado de um longo transe.Tem rosto de povo. Tão diferente, ou tão familiar: pedreiro, carteiro, padeiro, jornaleiro e mais uma infinidade de eiros no mesmo rosto, ou nenhum. Suas mãos trêmulas de dedos nodosos, tateiam os bolsos à procura de um volume inexistente. Uma sobe e coça o que lhe restou de cabelos. Desista velho.
Ele finalmente levanta os olhos. Vira-se e olha a rua, ou ou seus passos, não sei.
- Algum problema senhor?
- Oh, não tenho certeza garoto – disse ainda confuso –, acho que... acho que perdi algo. Algo pelo caminho. – rouquejou desviando o olhar novamente para rua.
Segui seus olhos. Só uma coisa me veio à cabeça enquanto procurava algo pra olhar:

- Acontece. Muitas pessoas passam por aqui. Vai ser difícil de encontrar. Isso se alguém já não tiver levado.

O velho arquejou e voltou-se para mim balbuciou uma coisa qualquer. Falou baixo. Como disse, velho? Colocou a mão em meu ombro e sorriu com o canto dos lábios:

- Dorme, só existe o sonho. Dorme, meu filho.

O velho saiu andando. 

Fiquei ainda um tempo parado, olhando, procurando algo pelos passos que o velho ia deixando atrás de si.

Eu mesmo voltei a andar, agora cabisbaixo.

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Este texto foi escrito ao som de Lonnie Jonhson, Stevie Ray e Led Zeppelin.

2 comentários:

  1. Esse post é a prova de que o Filipe consegue sim fazer textos curtos.
    A propósito, muito bom!

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  2. Péssimo, provavelmente escrito por um engenheiro.

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