quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Eis o malandro na praça outra vez...

É uma pena falar de algo que já passou, mas eu não poderia deixar comentar o espetáculo digníssimo que os alunos do IFCE apresentaram durante o mês de setembro no Dragão do Mar: a Ópera do Malandro, musical de Chico Buarque.

Para escrever a Ópera do Malandro, Chico foi buscar lá no século XVIII a obra de John Gay, Ópera dos Mendigos (1728), e a Ópera de três vinténs de Beltolt Brecht e Kurt Weill de 1928. Em resumo, a peça conta a história da rivalidade entre Max Overseas, um malandro que vive nos bordéis da cidade do Rio de Janeiro e é contrabandista, e Fernandes Duran, dono, justamente, de bordéis. O enredo se desenrola em torno do casamento indesejado de Max e Terezinha, a doce filhinha de Duran. Toda essa história nos é contada a partir de um contexto histórico e social muito bem abordado por Chico - os anos 40, final da ditadura de Getúlio Vargas. A obra também ganhou adaptação para o cinema, contando com Ruy Guerra na direção do filme de mesmo nome.

A peça, originalmente montada em 1978, obviamente foi censurada pela Ditadura Militar. A música "O Meu Amor", por exemplo, cantada pela personagem Terezinha, sofreu alterações: a letra original era "O meu amor tem um jeito de me beijar o sexo, e o mundo sai rodando, e tudo vai ficando solto e desconexo" e teve que ser modificada. A versão que conhecemos atualmente canta "O meu amor tem um jeito de me beijar o ventre e me deixar em brasa/ desfruta do meu corpo como se o meu corpo fosse a sua casa".

Os personagens Max Overseas (Otávio Augusto) e Terezinha (Marieta Severo)


Para quem, como eu, sempre se lamentou de não ter podido assistir ao espetáculo à época de seu lançamento, surgiu a oportunidade de ver a adaptação feita pelo pessoal da primeira turma do curso de licenciatura em Teatro do IFCE, montada como trabalho de conclusão de curso. A equipe fez um ótimo trabalho de adaptação e atualização do texto original, fazendo a platéia rir bastante com as piadas sobre o Ronda do Quarteirão e outras peculiaridades da nossa cidade. As canções do musical também estavam de cara nova. A música que fala da personagem Geni, por exemplo, ganhou uma versão maracutu. A mesma personagem, em uma de suas falas, brinca que tinha o corpo doído porque havia apanhado de Cid Gomes no dia anterior (a apresentação que assisti aconteceu na sexta-feira (30), logo após o incidente com os professores).

"O meu amor":




O grupo já havia se apresentado no Teatro do Via Sul e retornou em nova temporada no Dragão do Mar. Aos que perderam resta esperar (ou implorar a eles!) que o espetáculo volte aos palcos!

3 comentários:

  1. Realmente, muito bom!
    Pessoal do Teatro do IFCE tá arrebentando.

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  2. Eu vi essa peça uns tempos atrás. É uma Ópera do Malandro atualizado e ao mo cearês.

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  3. Eu queria ter ido... Pena q eu só soube da última apresentação. Tô junto do povo q vai rezar pra eles apresentarem de novo.

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