quinta-feira, 13 de outubro de 2011

No Basketball Association


Na semana em que David Stern, comissário da NBA (National Basketball Association), maior de basquete do mundo, anunciou que devido ao lockout (greve dos donos dos times) as duas primeiras semanas da temporada regular foram canceladas eu trago um texto escrito pelo jornalista Ubiratan Leal, da revista ESPN, sobre a situação econômica vivida hoje pela maior liga de basquete do mundo.

Jogadores e donos dos times se reuniram dia 09 desse mês em uma última tentativa de salvar a temporada, no entanto não foi possível chegar ao acordo. 57% do faturamento total da liga vai para os atletas, que fizeram uma proposta de diminuição para 54,3%, enquanto que os donos propuseram 47,3%, afirmando que a liga tem na verdade é perdido dinheiro nos últimos anos alegando que na temporada de 2009/2010 o prejuízo chegou à casa dos 340 milhões de dólares, mesmo a revista Forbes tendo afirmado que a liga havia faturado U$ 180 mi nesse mesmo período. Detalhes à parte, a liga, até agora, já encara um prejuízo de U$ 200 mi graças ao cancelamento da pré-temporada.

Mas enfim, vamos ao texto.

“Poucos norte-americanos já perceberam isso, ou preferem não perceber para não entrar em crise existencial, mas o esporte profissional dos Estados Unidos é socialista. Os clubes dividem o faturamento de forma quase igual, o draft permite aos mais fracos se reforçarem melhor para estarem fortes no futuro e as relações trabalhistas são duras. Não usam termos como “mais-valia” porque soaria marxista demais, mas discutir quanto do lucro se deve ao esforço do atleta não está muito longe disso.

Para muitas coisas, o sistema está correto. Mas um efeito colateral é a possibilidade de haver impasse na negociação do acordo entre sindicato de jogadores e a direção da liga. Aí, uma das partes pode cessar a relação com o outro lado. Exatamente o que ocorre agora com a NFL e a NBA. Nos dois casos, os patrões decretaram o locaute (greve patronal) e a torcida fica na incerteza se haverá a próxima temporada do futebol americano e do basquete profissionais.

Quem vê de longe, como o público brasileiro, parece tudo a mesma coisa. Mas particularidades de cada negociação tornam a situação da NBA ainda mais delicada que a da NFL – que já não é boa e teve um retrocesso nesta semana.

Se um dono de franquia da NBA disser que está apertado financeiramente, há uma chance de ele estar perto da verdade. O salário anual médio é de US$ 4,6 milhões por jogador, o maior de qualquer liga no mundo. Se formos pegar os 50 clubes que pagam maiores salários por atleta, contando o elenco completo, temos 23 da NBA, 11 da MLB, 5 de Premier League e Indian Premier League (críquete), 3 da Lega Calcio, 2 de La Liga e um da Bundesliga. Isso mesmo, não há NENHUM time da NFL. A primeira equipe do futebol americano nesse levantamento é o Washington Redskins, em 70º lugar.

Pode-se argumentar que isso é possível porque os elencos de basquete são mais enxutos que no futebol, no futebol americano e no beisebol, o que faz que menos jogadores tenham de dividir a folha salarial e, portanto, o pagamento per capita fique alto. É verdade, mas o ranking de clubes com folha salarial mais alto do mundo entre seu time titular expõe a gastança na NBA.

1 – New York Yankees (MLB)
2 – Real Madrid (La Liga)
3 – Barcelona (La Liga)
4 – Chelsea (Premier League)
5 – Dallas Mavericks (NBA)
6 – Los Angeles Lakers (NBA)
7 – Detroit Pistons (NBA)
8 – Cleveland Cavaliers (NBA)
9 – Boston Celtics (NBA)
10 – New York Knicks (NBA)
11 – Phoenix Suns (NBA)


Não é à toa que mais de 20 das 30 franquias da NBA terminaram a temporada no vermelho, segundo a direção da liga. Até porque o basquete é apenas o terceiro esporte mais popular dos Estados Unidos (atrás de futebol americano e beisebol) e, se formos separar esporte profissional do universitário, a NBA se torna apenas a quinta liga mais popular (atrás de NFL, MLB, futebol americano da NCAA e Nascar). Ou seja, a capacidade de captação de recursos, ainda que gigantesca em valores absolutos, é menor que a de outras competições nos Estados Unidos.

Isso não significa que o basquete profissional opere no limite. A liga é rica e acaba de vir de sua temporada mais espetacular (e de mais audiência) em muitos anos. No entanto, muitos clubes não estão com folga mesmo assim. Talvez estejam desperdiçando demais em questões não-esportivas, mas isso só mudaria com reestruturações administrativas que levam bastante tempo para terem efeito.

Enquanto isso, há muita margem de manobra nas negociações da NFL. O teto salarial é muito mais restrito que na NBA. Isso permite que times de mercados pequenos disputem as primeiras posições (New Orleans Saints, por exemplo) e grandes caiam para a rabeira (Washington Redskins) de tempos em tempos. Outro benefício (para os donos de clubes) desse sistema é que limita o gasto em salários. Como se trata – de longe – da liga mais rica do mundo, há dinheiro de sobra para gastos operacionais e, claro, para os donos embolsarem alguns milhões.

Na NFL, nem é preciso ser competente para ter (muito) lucro. O Cincinnati Bengals, que fez apenas duas partidas de playoffs na última década (perdeu ambas), teve lucro de US$ 263 milhões desde 2001. A distribuição democrática de recursos e a popularidade quase insana do futebol americano profissional acaba premiando até a incompetência.

Desse modo, é muito mais fácil os donos de franquias da NFL se convencerem que é possível abrir mão de parte de gigantesco seu lucro para atender ao pedido dos jogadores e a temporada 2011 ser disputada sem grandes percalços. Se tem alguma dúvida, é só rever os Bengals. Enquanto teve US$ 49,4 milhões de lucro em 2010, os Tigres de Bengala são apenas o 144º clube do mundo em salário médio por atleta (até o Fulham e o Nashville Predators pagam mais a seus jogadores!). Parte desse enorme lucro não poderia ser repassado para o elenco?

No basquete, o cenário é muito mais complicado. Além de os donos de times terem menos margem de manobra, os jogadores também têm motivos para não ceder muito nas negociações. O principal deles é a possibilidade de conseguir um emprego para lá de razoável no exterior. A NBA paga melhor do que qualquer liga de basquete do mundo, mas os salários pagos em Espanha, Itália, Grécia, Rússia, Israel, Turquia e China são bastante apetitosos. E qualquer uma dessas ligas adoraria ter uma estrela da NBA por uma temporada.”

Fonte: http://espn.estadao.com.br/nba/post/200303_NBA+A+SITUACAO+E+GRAVE+DE+VERDADE

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