domingo, 11 de setembro de 2011

Mentiras Sinceras Me Interessam

Essa coluna será as anotações mentais daqueles dias de domingo em que encaro a tarde vazia, de cueca, com a marca da ressaca na cara. Todo mundo já viu Cazuza gritando “mentiras sinceras me interessam”e todo mundo seguiu o refrão. Querem mesmo ouvir mentiras sinceras? Eu tenho um monte. Nem todas são minhas, é verdade, algumas tomei para mim ao ouvir de outras pessoas.

Meu pai um dia me disse para que eu nunca mentisse. Mas ele se esqueceu de dizer a verdade¹. Nunca entendi muito bem um certo culto à Verdade que se insiste em fazer ao dar um caráter tão pejorativo à Mentira. Mentira é o que faz o nariz desse tamanho, é o que faz ninguém acreditar em você, ou então é o que lhe vai dar sentença de morte num tribunal. E o que é pior, já foi dito que mentir para si mesmo é sempre a pior mentira.

Nossa... o que seria de nós se o mundo não tivesse por nós a caridade de mentir? Todas as pessoas querem ser felizes. Isso não tem exceção. É esse o motivo de todas as ações de todos os homens, inclusive dos que vão se enforcar. A Verdade não é sinônima de felicidade. A verdade não tem gosto. Está jurada a ser algo exterior ao ser humano. Como algo que acontece indiferente a você. É como o Sol. Sabe que ele existe, pois sente seu calor, vê sua luz, mas ninguém pode dizer que o Sol deve algo a você. O Sol não se importa com ninguém, está lá, estático, incompreensível às dores de qualquer moribundo que está prestes a pular da ponte. O Sol é como a Verdade. Parece que está presente e o envolve por toda a sua vida, mas na Verdade é o que há de mais distante do seu entendimento.

Estou sendo claro? É impossível viver a Verdade. Só as Mentiras podem fazer algo pelo Ser Humano.

De certo modo, creio eu, a Verdade é uma hipocrisia. Até uma preguiça. É de feitio de quem é preguiçoso de deixar as próprias responsabilidades para outras pessoas. É feitio de quem só fala a Verdade se isentar da responsabilidade de ser sincero usando a Verdade como o álibi para se esconder do medo de falar o que pensa.

Verdade é inimiga da opinião. Quem fala a Verdade não é sincero.

Falando a Verdade você pode até achar que está sendo sincero, mas poderá magoar alguém que você, sinceramente, não quer ver magoado por você.

Não... Esse não foi um bom exemplo...

Verdade é inimiga da opinião. Quem fala a Verdade não é sincero. Sincero é quando a mentira faz você esquecer por alguns instantes que não é quem sonhou que um dia seria, que é um ser sem importância alguma, que na realidade não mudará em nada o mundo em que vive - No futuro os sonhos revolucionários darão lugar a uma tentativa ínfima de dar aos filhos o exemplo e a oportunidade de continuarem o plano infindável de tornar esse mundo um lugar melhor de se viver - e nunca ficará plenamente satisfeito com a pessoa que você diz que ama - O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece².

Mas mesmo assim as pessoas continuam acreditando que podem salvar o mundo e que um dia a pessoa certa aparecerá. E isso é o que há de mais legítimo e é o que dá sentido para quase todas as pessoas que conheço. O que há de ruim achar sinceramente que o caminho que se dá para a própria vida é o melhor, ou o único possível? Ou não achar nada?
O que há de mais legítimo do que mentir a si mesmo? O que há de mais humano do que tentar enganar a dor?

Não é sempre insistindo na Verdade que poderemos substituir por sonhos futuros as mágoas de rancores do passado. Na minha opinião é ocultando aquilo que nos escapa - mentindo pra si mesmo, para o leitor indelicado - que podemos dar outra chance de viver em paz.

E mais, o melhor que alguém pode fazer pelos outros se realmente não quiser se sentir responsável por aquilo que cativa é ficar calado. No silêncio não há Verdade nem Mentira.

Não há possibilidade de falar a Verdade sempre. As pessoas que falam mentem sempre, pois acabam esgotando seu estoque de verdades. Há sempre algum motivo pra mentir. Ou seja, há sempre um motivo pra provar que se é Humano.
___________________
¹Roberto Carlos; ²Charles Bukowski;

Este texto foi escrito ao som de Cazuza, Titãs e Edith Piaf.

Um comentário:

  1. Uau, cara.

    Ai eu digo que foi um devaneio danado. O domingo dá essa liberdade de pensamento pra gente, né. Divagar entre verdades e mentiras até a segunda-feira chegar, e, com um porrilhão de coisas novas (boas ou não) pra fazer, voltar pro mundo real.

    Só discordo num momento. Ao dizer que "No silêncio não há verdade ou mentira", tenho um diferente ponto de vista. Se o silêncio é a ausência de barulho, pode-se dizer que há uma omissão de alguma coisa que romperia o silêncio. Uma mentira, por sua vez, é a omissão de uma verdade. Por isso, um silêncio pode ser uma mentira.

    No entanto, se um dia a verdade acaba, logo a mentira é uma continuação da verdade. Correto? Portanto, a gente pode dizer que o silêncio é um prenúncio de uma mentira que já foi uma verdade? Né?

    ...

    É o domingo, meu caro. Parei ali as coisas pra ler vocês. =)

    E, pra fechar, Freud dizia que "mentiras são verdades, só que ao contrário". Não sei se faz lá muito sentido, mas achei a frase legal. Hahaha! Abraço! :D

    P.S.: E tu escreve bem demais, rapaz.

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