terça-feira, 13 de setembro de 2011

Hora da Partida

Estava eu em Guaramiranga, dando uma de jornalista e fazendo a cobertura do FNT (Festival Nordestino de Teatro), quando surge um senhor perguntando se eu gostava de poesia. Então, ele põe em minhas mãos um livreto cujo título era Tira Gosto. Mas esse não era o único. Havia outro chamado Aperitivo.

Resolvi ajudar o senhor e perguntei quanto era. Ele disse: "Quanto você quiser!"
Trouxe o Tira Gosto para casa e preparei esse post como Aperitivo para vocês.

O título deste poste também é o título de um poema. E este, por sua vez, traduz a vida de seu autor, Valter di Lascio. O poema fala de amar, partir e não voltar. Segundo Valter, ele saiu de casa, em São Paulo, para tomar uma cerveja e até hoje não voltou. Por que sair de São Paulo? "Por que não sair? Deu vontade."
Ele é um poeta marginal, mas não no sentido histórico do termo. Ele não escreve necessariamente para protestar; ele escreve para viver. Literalmente. Quando o conheci, ele estava vendendo livretos para conseguir dinheiro para ir embora.
Ah! Ele também é um poeta andarilho. Ele já foi de Porto Alegre ao Piauí. Vai de lugar em lugar vendendo seus livretos, jogando conversa fora e aprontando alguma coisa.  Em Fortaleza, ele é um tipo já muito visto lá pelos arredores do Dragão do Mar e do bairro de Fátima. Na internet, ele é figurinha repetida em muitos blogs. Tem um jeito boêmio e despreocupado que até lembra os poetas malditos do século XIX.

Sou narcisista, eu sei!
 Mas também era a melhor foto dele...
Voltando a Guaramiranga. Parei pra conversar com ele. "Eu posso te contar uma poesia?" era recorrentemente dito. Em meio a devaneios, ele soltava galanteios - "tudo para ver o seu sorriso" - e frases de efeito - "sair pra virar estatística e notícia de jornal". De fato, ele já virou notícia. Na sua bolsa, ele guarda uma página do Diário do Nordeste no dia 30 de janeiro de 2006.
"O senhor me dá uma entrevista, pra eu postar no meu blog?" "É esse negócio de internet? Pode fazer... Eu já apareci muito na internet, mas eu não sei mexer."

Mas e a poesia? Não tem um padrão. É experimental. É romântica, escatológica, cotidiana, erótica, autobiográfica, de escárnio. E podem trazer um tom de humor sensacional. Passam uma mensagem ou passam mensagem alguma. É um simples ato de escrever. Ele até já publicou alguma coisa, mas ainda hoje tenta publicar "um livro de verdade".

PAUSA DRAMÁTICA: Numa conversa, ontem, com o Filipe, surge a declaração: "Arte não existe. O que existe é uma convenção formada por uma pequeno grupo de elite que são autoridades e que dizem o que deve ser arte". É... Parece que o nosso personagem não agradou a essa elite.

No final da conversa:
"Você vai escrever toda essa putaria que eu falei, é? Você pode me fazer um favor? Você pode não colocar na internet?"
Foi mal! Não consegui resistir...

5 comentários:

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  2. Esse Valter tá em todo lugar! Tenho dois livretos dele. Hehehehe

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  3. Ah, Valter, sempre tem algo a dizer. Um dia desses ele cantou Tigresa do Ceatano, em uma mesa de bar. Gênio das ruas.

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  4. Já bebi com esse cara no Dragão. Gosto dos poemas deles que falam sobre sexo. Ele disse que nada era melhor pra lavar a alma de que uma trepada homérica e disse que minha namorada tinha uns olhos bonitos. Ok.

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  5. Tenho a leve impressão de já ter visto esse cara pelo Dragão. Talvez não seja só impressão, afinal.

    E Luiza, moça, que texto bacana de ler. Sério. Não resisti e tive que comentar. ;]

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