sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Imagem e alguns signicados

A imagem, que vêm do latim imago, significa, acima de tudo, representação. Para alguns teóricos, supressão do presente, forjamento do real, roubo do momento, e para outros a imortalização ou até mesmo o furto da alma do fotografado.

Sempre considerei esse assunto por demais interessante, o qual não tive tempo suficiente aplicado em estudo para chegar a uma teorização embasada e de respeito, mas, aqui vou perfilhar algumas linhas superficiais sobre o assunto.

A morte da imagem já foi apontada com o surgimento da fotografia, julgada e culpada, pela morta da pintura. A imagem já foi dada como morta com o surgimento da TV, em que ficou extremamente e ridiculamente exposta e para alguns, até mesmo banalizada.
Quando estava em um ônibus, no meio da tarde de uma quinta-feira com o Thiago Nobre, conversamos que nada mais que nossos olhos tocam é de fato impactante. Calejados, acostumados com imagens fortes. Na Tv, almoçamos assistindo programas policiais sanguinários; no cinema alguns cineastas passam do limite do necessário só com o intuito de chocar o público, deveras impermeável; e na fotografia, não deixa de ser igual. Quantas vezes vemos clichês, que se vistos a primeira vez são belos, e tocam nossa alma, e depois de certo tempo estão batidos, e se tornam lugar-comum, esteriótipo. Digam-se as fotos de criança e da lua.

No século XIX, tiravam foto de gente morta (chamada de Post Mortem Photos), que parecia estar dormindo como uma maneira de imortalização, beleza ou sinistro? Querer manter um ente querido na sua vida, seja na fotografia, em que se acreditava captar a alma do morto nela, é de fato uma tradição ou só egoísmo? Não há ruptura como a morte, esse é o porquê a morte se torna de tal importância, para o emocional fraquejado das pessoas, uma representação do último momento, e captar esse último momento, para eles talvez fosse o necessário para manter a pessoa ‘viva’. Acho os dois, belo e sinistro.




A imagem ultrapassa o processo de fotografia, a crença na imagem e no seu significado é maior do que o fotografo, a foto e o fotografado em si. A amplitude de tal significado é deveras complexa, para todos. Afinal, o significado modifica-se de acordo com as suas experiências e sua visão.
O que não posso e nem vou deixar de pontuar é que devemos observar melhor, olhar não só enxergar. Vivemos numa inconsequente saturação visual. Não importa o que vemos, nem quando vemos nem quem vemos, estamos estáticos, imóveis, estátuas fartas e saciadas visualmente. Não admito deixar de pedir para você ver, quem sabe, com olhos de quem jamais viu nada ao seu redor, a textura, as cores quentes e frias, as sensações, explorar, por fim, sinestesia.
Belo, sinistro, feio, esteticamente inaceitável, observar tudo ao seu redor, para não deixar nossos olhos domesticados, e sim afiados e deslumbrados com tudo.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A Copa Ronca (opa, Rocca) e outras coisas.


Quase 47 minutos do segundo tempo do jogo, 2 a 0 pra seleção da CBF, e eu achando que nada mais ia chamar minha atenção (até porque o jogo só iria até aos 48), mas a vida é uma caixinha de surpresas e a torcida que esteva presente ao estádio começa a gritar “É campeão, é campeão...”. Nada contra. Pela festa, valeu a pena, até porque como diria Galvão Bueno (clica aí que vale a pena) “ganhar é bom, mas ganhar da argentina é melhor ainda” (é?). Mas aí eu me pergunto, valeu de que esse jogo? Sinceramente eu não faço a menor ideia, porque enfrentar o time da Argentina formado apenas jogadores que jogam nos campeonatos brasileiro e argentino de futebol é a mesma coisa que (quase) nada. A seleção da CBF ganhou (do time D da Argentina), mas e daí? Me surpreende a atenção dada à um jogo como esse enquanto que pouco se fala sobre o pré-olímpico feminino de basquete, que, logicamente, vale vaga para Londres em 2012. Mas o que me deixa mais intrigado ainda, pelo menos no que diz respeito ao futebol, é o fato de que o poderia ter acontecido se Neymar e seus blue caps tivessem perdido. Mano Menezes seria ainda técnico da seleção?


Vai saber. 

Mas vamos falar do que vale a pena. 

Bola de Bronze: Kaká foi protagonista na vitória do Real Madrid sobre o Ajax, pela Uefa Champions League, com um gol e uma assistência, o meia brasileiro não escondeu a sua satisfação com sua própria performance na partida.

"Eu desfrutei, não me doeu nada e fisicamente eu me encontro bem", analisou o meia brasileiro, após a vitória por 3 a 0.

- É o prêmio pela coragem de decidir enfrentar tudo e todos ao ficar no Real e pagar o investimento que nele foi feito. Espero que ele volte à boa fase, ele merece.

Bola de Prata: Lionel Messi. O argentino marcou duas vezes no jogo contra o Bate Borisov, jogo valido pela Liga dos Campeões da Europa, e igualou-se ao húngaro Láslo Kubala como segundo maior artilheiro da história do Barcelona, com 194 gols. Kubala, um dos mitos da história do clube catalão, atingiu a marca em 11 temporadas, aos 34 anos. Messi iguala a marca aos 24, no começo da sétima temporada pelo clube. O maior artilheiro da história do Barcelona é César Rodríguez, com 235 gols.

- Esse “garoto” ainda vai longe! (mais?)

Bola de Ouro: Deputado federal, Romário se mostra engajado com causas relativas ao futebol, principalmente no que diz respeito ao Mundial de 2014. 

"O que mais me agride é esse gasto de dinheiro público com estádio. Por exemplo, tem estádios que vão chegar a mais de R$ 2 bilhões. Estádios que, com certeza, vão ter apenas dois ou três jogos e virarão elefantes brancos".

"Alguns orçamentos aumentaram em 20%. As obras nem começaram, nenhum tijolo. Ou seja, o gasto é uma brincadeira e ninguém faz nada, ninguém toma decisão. A conta que foi feita há dois anos, de que o custo da Copa do Mundo seria de 52 bilhões de reais, se a gente colocar o trem-bala, já passou dos 60"

"Quem vai ao estádio ver futebol no Brasil? São as classes C, D e E. Infelizmente, pelos preços que tenho ouvido, (o custo do ingresso) vai bater R$ 450. Vai ser a Copa no Brasil e não vai ser a Copa para o brasileiro".

- É, alguém nesse país tem que se indignar com essa história toda de Copa do Mundo. Quero ver é alguém fazer alguma coisa, peixe.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Afinal, o que é Jornalismo Ambiental?

Eu sei que essa tecla já foi muito batida e também não quero ser mais uma eco-chata tentando mudar os hábitos das pessoas, mas o fato é que o assunto ambiental tá na boca do povo e merece sempre ser relembrado.

A relação entre Meio Ambiente e Comunicação foi assunto do último debate promovido pela Liga Experimental de Comunicação da UFC, na quinta-feira (22), com Miguel Macêdo, professor da FA7 e coordenador de comunicação da UnilabMaristela Crispim, editora de reportagem da sessão Gestão Ambiental do Diário do Nordeste e Monyse Ravena, assessora de comunicação da ONG Cáritas. Muito embora a conversa tenha sido superficial e o pouco tempo tenha impossibilitado maior interação dos palestrantes com a platéia (porque, enfim, precisaria de um dia inteiro pras milhões de perguntas que eu queria fazer), foi bom ver que, mesmo poucas, há pessoas interessadas no tema.

Tudo começa com a pergunta: existe Jornalismo Ambiental? E essa é uma resposta de muitas divergências. Alguns dizem que não, e incorporam-no ao Jornalismo Científico. Eu, pelo menos, acho que, sim, ele existe. O Jornalismo Ambiental, de alguma forma, não deixa de ser Jornalismo Científico, mas conquistou tanto espaço que ganhou um nome e tem como papel informar e conscientizar (embora eu não goste dessa palavra) as pessoas sobre o que está sendo feito do nosso espaço e sobre o que nós podemos fazer por ele.  Entretanto, como disse Maristela Crispim, as "pautas ambientais" devem transitar por todas as editorias de um jornal, por exemplo, porque a questão ambiental engloba contextos políticos, econômicos e sócio-culturais. O que, infelizmente, é praticamente impossível é o Jornalismo ser sustentável (embora eu também não goste dessa palavra) porque é uma atividade que naturalmente desperdiça recursos e materiais com o gasto de papel, por exemplo, mesmo com a Internet e o desenvolvimento de novas tecnologias, que também têm impactos ainda maiores em sua produção. Mas, enquanto isso, quem tenta ser "verde" é a Publicidade: a jornalista Maristela Crispim citou uma agência holandesa, a Fresh Green Ads, que usa o próprio meio ambiente como plataforma para os seus anúncios. Eles provam que até com areia se pode vender Coca-Cola.





A ONG Cáritas, representada no debate de quinta-feira pela Monyse Ravena, assessora de comunicação, acrescentou à discussão uma outra visão de Jornalismo Ambiental muito além da grande imprensa: a comunicação popular. A Cáritas é uma organização internacional que, aqui no Nordeste, tem como ação maior o trabalho de convivência com o semiárido, que contribui para a melhoria da qualidade de vida de moradores da região através de várias atividades. O foco do trabalho de comunicação dentro desse projeto é construir a identidade do sujeito com o seu espaço, ou seja, do habitante com o semiárido, e tornar isso público. As pessoas aprendem a conviver com as dificuldades climáticas do semiárido, a produzir e a consumir sem prejudicar a natureza, cuidando do que é de todos, e, então, aprendem a comunicar e a mostrar aos outros o seu entendimento sobre questões culturais e ambientais. Um dos resultados disso é "O Candeeiro", um boletim informativo produzido pela própria comunidade. 

Outros assuntos também foram abordados no debate, como a "onda de sustentabilidade" que surgiu no séc. XXI depois da divulgação do IPCC e a cobertura atual da grande imprensa. Eu fui embora com a cabeça cheia de perguntas...

Na verdade, antes de tentar definir o que é Jornalismo Ambiental, é preciso fazer as pessoas entenderem o que é viver sem prejudicar a natureza. O assunto não está na moda à toa. Todos nós, de alguma forma, nos preocupamos com isso, talvez porque esteja mais diretamente ligado a nós, porque é o nosso bem-estar. Ser "sustentável" não é só não usar sacolinhas de plástico, não jogar lixo na rua ou economizar água. O importante é cuidar da relação entre seres vivos e natureza. E nós como seres vivos precisamos cuidar do espaço onde nascemos, crescemos e morremos. Ninguém gosta de morar numa casa suja e bagunçada. Cuidemos, então, do espaço coletivo. Não só por "bondade" ou "solidariedade", mas porque podemos existir melhor se pensarmos essa nossa existência. Se lembrarmos, por exemplo, que jogar menos lixo na rua pode diminuir o gasto de dinheiro público com a limpeza e transferir esse dinheiro para investimentos em educação e melhores salários. Ou se soubermos que não somos os únicos a usufruir do espaço que temos disponível e que devemos utilizar tudo com moderação e respeito.





DICAS PRO FIM DE SEMANA

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Romeu e Julieta: a tradição da reinvenção

Lavoisier já dizia "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Me parece que nas artes nada se inventa, nada fica obsoleto, tudo de adapta.
Romeu e Julieta é um ótimo exemplo disso.
Tragédia escrita por William Shakespeare, certo? Errado! História adaptada por Shakespeare.

Romeu e Julieta na famosa cena
da sacada
O enredo dos jovens de famílias rivais que se apaixonam e acabam morrendo por não poder viver esse amor remonta da antiguidade, da história de Príamo e Tisbe, de Ovídio. Algo semelhante também é encontrado n'Os Contos Efésios do século III. Já o nome das famílias, Montecchio e Capuleto, antes foram apresentados na Divina Comédia, de Dante Alighieri, mas há ainda quem diga que as famílias realmente existiram.

Passando por cima de mais uma série de títulos e adaptações - Mariotto e Gianozza e, enfim, Giulietta e Romeo -, chegamos a Matteo Bandello, em 1554, com a nouvelle que chegou às mãos do dramaturgo inglês.

E então, a história que já era famosa, se disseminou pelo mundo.
De conto para livro, de livros para peça, de peças para filme, de filmes para o que se imaginar. E até mais.

Animação Gnomeu e Julieta
Falemos de alguns filmes. O de 1968, a história tradicional chega ao Oscar. A versão de 1996 traz os personagens para o século XX com as falas do século XVI: eles saem de Verona, na Itália, e vão para Verona Beach nos Estados Unidos. Em 2005, vieram para o Brasil transformando a briga de famílias em briga de torcidas. Já em 2010, os jovens italianos viraram gnomos de jardim, com direito até à participação especial de Shakespeare. E ainda vem outro por aí...
Sem falar nos filmes inspirados na obra, ou que apresentam a peça como parte de seu próprio enredo.

Mas a história ainda é teatro, seja na versão shakespeariana, ou inundada experimentação, como um musical que retrata a luta entre duas gangues da favela do Maré no Rio de Janeiro, ou uma história repleta de rock e jeans. Pode vir também com a inserção de elementos da cultura local, como proposto, em 1992, pelo Grupo Galpão de Minas Gerais, e atualmente pelo Grupo Garajal, que além de inserir a cultura cearense, experimentou a utilização da simbologia como a diferenciação dos personagens, representados pelo figurino e encenados por todos os atores.


Hoje Romeu e Julieta é história em quadrinho, ensaio fotográfico, história de vampiro, queijo com goiabada, música e até estúdio publicitário.

Ensaio da Vogue

Marcelo Camelo - Romeu e Julieta by luizacarolina30

Enfim, Romeu e Julieta é reinvenção. É a prova de que algo já bom sempre pode se transformar em outra coisa igualmente interessante. Ou não. Mas ainda assim vale experimentar.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Nevermind Neverdead


Quando escutei "Smells Like Teen Spirit", do álbum Nevermind, do Nirvana, pela primeira vez, meus pelos pubianos começavam a nascer e o meu gosto pelo rock começava a aflorar de um modo tão incontrolável quanto o princípio de libido característico daqueles meus 12, 13 anos. Tive vontade de pular, gritar, tocar aquela música que, naquele momento, era incontestavelmente boa. Só não tinha noção do significado que ela e o álbum tinha na história do rock , coisa que veio acontecer a poucos dias, quando um amigo me sugeriu esse post para não deixar passar em branco os 20 anos do álbum que mudaria os rumos da cultura pop.



É fato que a sonoridade do Nevermind revelou ao mundo da música a atitude do rock grunge, com guitarras que alternam entre a distorção e a clareza, vozes que alternam entre o grito e a melodia, músicas que alternam entre o "sujo" e o "limpo". Por si só, isso já torna o Nirvana uma das grandes bandas do Século XX.

Mas talvez esse nem tenha sido o grande legado do álbum que chegou a 30 milhões de cópias e beirou os 32 milhões de Sgt Pepers Lonely Hearts Club Band (dos Beatles). A maior herança deixada por Kurt Kobain, Krist Novoselic e Dave Grohl (que hoje comanda o Foo Fighters) com o segundo álbum da banda foi abrir as veias do mercado musical para a música alternativa. Em 1991, o pop de Micheal Jackson ainda reinava no mercado. Além disso, Guns n´Roses vinha com grandes hits no projeto Use Your Illusion e o Red Hot Chilli Pepers vinha com o consagrado álbum Bood Sugar Sex Magic.

Nevermind abriu as portas do rock grunge de Seatle para o mundo. Fez com que as grandes gravadoras corressem atrás de bandas da pacata cidade, como Pearl Jam e Alice in Chains. Inaugurou o rock dos anos 90 e deixou pra trás toda a onda oitentista musical do pop e do hardrock. Mostrou que o rock não se faz com luxo ou qualquer tipo de ostentação, mas com a simplicidade do baixo, da guitarra, da bateria, de roupas de flanela e de all star.



Como comemoração das duas décadas do álbum agora no mês de setembro, o Nevermind ganha uma versão de luxo que deve entrar no mercado ainda nesse mês. Confira novidades e curiosidades sobre o álbum:

As gravações de Butch Vig
Antes de ir à Califórnia para as sessões de Nevermind, o Nirvana gravou versões iniciais de faixas como Breed e Polly no estúdio do produtor Butch Big, Wisconsin. Era abril de 1990.

Os ensaios
Além da conhecida versão “sujinha” de Smells like teen spirit, sucesso na web, o CD desenterra os ensaios de faixas como Territorial pissings, além das raridades Old age e Verse chorus verse.

Mixagem alternativa
Cobain torcia o nariz para a mixagem “polida” de Nevermind, feita por Andy Wallace. Aqui, os fãs têm a chance de conhecer o acabamento que Butch Vig teria dado ao disco.

Show em DVD
Um show do Nirvana no Teatro Paramount, em Seattle. Além das faixas de Nevermind, o trio interpreta canções de Bleach.

A capa
Foi Kurt Cobain quem teve a ideia para a capa de Nevermind, enquanto assistia a um programa de tevê sobre partos debaixo d’água. Sugeriu ao artista gráfico da Geffen Records, Robert Fisher, a imagem do bebê nadando em direção à nota de dólar, pendurada no anzol. O menino Spencer Elden, filho de um amigo do fotógrafo responsável pelo ensaio, fez o trabalho direitinho. Mas, entre os executivos da gravadora, a pose provocou polêmica: foram feitas versões da capa com e sem a imagem do pênis do garoto. Cobain, em meio às discussões, sugeriu que o álbum viesse com este aviso: “Se você se sentiu ofendido por essa imagem, deve ser pedófilo enrustido”. A arte original venceu a briga.

domingo, 25 de setembro de 2011

Você tem que ser alguém na vida!


Quando estava passando uns dias com os meus pais, vi minha mãe brigando com o meu irmão. Ele tem 14 anos e está na nona série. Ela estava brigando com meu irmão porque viu que o livro de física dele está praticamente em branco. O colégio é caro. Meus pais suam muito para mantê-lo em um colégio caro. O livro foi caro. E ele nem tem consideração pelo esforço dela. É como se o que ela falasse entrasse por um ouvido e saísse por outro. 
Engraçado é que ela brigava comigo pelo mesmo motivo e eu agia da mesma forma.

Eu faço Jornalismo, mas acho que todo mundo aqui sabe que eu já fiz Engenharia Mecânica. Geralmente as pessoas dizem que uma coisa não tem nada a ver com a outra, perguntam como foi que isso aconteceu, o que meus pais disseram e coisa e tal. Foi uma decisão muito difícil. É muito difícil dar um outro rumo na vida.
Mais difícil do que tomar a decisão de abandonar uma faculdade é contar para os pais. Mesmo que os pais sejam compreensivos e seus melhores amigos, é muito difícil dizer que se largou uma faculdade. Quando você conta isso pra eles, é carta-marcada que lhe façam a pergunta E aí, o que você tá pensando em fazer da vida, então? Só que a pessoa faz essa pergunta pra si mesma a todo o momento, e ainda não sabe responder. Os pais ficam com medo.

Eu tenho uma teoria. Começarei chamando de vinteanistas as pessoas que são da minha geração. As pessoas que às vezes se juntam para ter aqueles momentos saudosos em que nos lembramos em como era bom assistir Cavaleiros do Zodíaco, jogar Mário World, comer Tortuguita. As pessoas que cresceram na década de 90.

Como, vinteanistas, sou feliz. Tão feliz que reclamo em como é pobre a infância de hoje sem o Doug e o Costelinha. Tenho tudo para ser feliz: Nunca faltou comida na mesa, estudei nas melhores escolas, ganhei bicicleta aos 5 anos de idade, tenho meu próprio computador e tudo mais. Minha mãe diz que quando ganhou a primeira bicicleta que ela já fazia faculdade. Nunca faltou nada para mim. Não sei o que é fome. Nunca precisei deixar a escola para trabalhar. Não, ainda assim, contrariando o que disse no começo do parágrafo, eu não sou feliz. Vivo angustiado, até.

Anos oitenta, a década perdida.
A vida na década de 70 e 80 não devia ser fácil, viu? Creio que era bem difícil. Ditadura militar, depois uma redemocratização bem cometida, tudo isso banhado numa crise econômica desgraçada. Penso que era difícil ser jovem naquele tempo. Começava-se a trabalhar cedo. Meu pai conta que começou a trabalhar aos 14 anos, dirigindo um caminhão do meu avô. Minha mãe conta que passou um ano sem estudar, porque meus avós não tinham dinheiro para pagar um cursinho para duas filhas. Minha tia estudou primeiro, enquanto que a minha mãe trabalhava para a pagar o cursinho da irmã. No ano seguinte a minha tia passou no vestibular e começou a trabalhar para poder pagar o cursinho da minha mãe. Interessante é saber que elas só tinham uma calça jeans para as duas. Quando uma voltava para casa, tirava a calça, engomava para secar o suor e dava para a outra vestir e ir trabalhar.

As dificuldades eram reais e a fome era algo que era realmente factível. Ao menor descuido ela podia aparecer. Creio que é consenso que os pais dão aos filhos tudo o que eles não puderam ter. O maior medo dos pais dos vinteanistas é ver os filhos passando dificuldades. O pai vai então dar para as crias tudo o que a vida o negou no seu tempo.



Agora, a fome para os vinteanistas é algo distante. O cara sabe que ela existe, mas nunca a sentiu. Existe talvez ainda na tela da televisão. Ou num canto escuro da cidade. O vinteanista, nós, eu não sei o que é passar dificuldade.

Há um consenso na cabeça dos vinteanistas que é necessário primeiro ter estabilidade econômica para depois se pensar em constituir família. Era o que eu vivia ouvindo os meus pais falando. Se formar, ter um bom emprego, mestrado, doutorado, se possível, para só depois disso, e olhe lá, pensar em se casar e ter filhos. Hoje a gente tem isso como algo muito natural. O interessante é que com os nossos pais foi o contrário. A maioria dos pais dos anos 80 primeiro constituiu família para só depois conseguir estabilidade financeira. Outro medo dos pais é que os filhos repitam isso. O sexo, na minha visão, foi tratado mais como algo para ter medo do que para ser aproveitado. Com 20 anos na década de 80 já se devia ser alguém na vida, sustentar uma casa, quem sabe até um filho. Eles sabem como era difícil ser jovem e pai ao mesmo tempo. Eu mesmo nem cogito a possibilidade de ser pai agora. O medo de uma gravidez indesejada é quase tão grande quanto ver o filho passando fome. Novamente, o medo que os filhos cometam o mesmo erro.
Quando eu, Filipe, era pequeno, 12, 13 anos, era um idealista nato. Queria salvar o mundo com o meu socialismo. Queria mesmo ser Che Guevara, no fundo. Meu pai dizia que era bom querer ajudar os outros, mas que eu não me esquecesse que o Che primeiro fez faculdade, de medicina, e depois, me explique como é que sonho trás comida pra mesa? pode viver de sonho não, tem que estudar. Depois arrumar um emprego. Quando conseguir tiver salvado a própria existência, aí sim, poderia pensar em salvar uma outra pessoa. Não, não é questão de capitalismo ou comunismo. Os pais só querem que o filho aprenda, à maneira que lhes foi ensinado, que sonho não enche a barriga de ninguém, e que ter dinheiro é importante. E, à sua maneira, ele estava certo.

Só que nascemos, vinteanistas, num período mais ou menos estável para a economia. Já não é tão difícil viver quanto na década perdida. Praticamente não há inflação.  A estabilidade econômica traz o lazer e a segurança que são o pré-requisito para o sonho e a divagação. Não precisamos mais ter medo de passar fome para seguir um caminho na vida. Nossa batalha diária é a espiritual. Todas essas calças e blusas no meu guarda-roupa não me deixam feliz. Ter carne na mesa todo dia é algo que não faz diferença porque eu sei que tem amanhã vai ter carne de novo. E, por mais trágico que isso possa parecer, creio que é assim mesmo que ocorre dentro das cabeças dos vinteanistas. É o que acontece com a minha, no inconsciente, creio eu.
Minha preocupação maior, nesses dias, é terminar de ler o livro Raízes do Brasil, do Sérgio Buarque de Holanda. Para tirar boa nota e passar na disciplina da faculdade? Não. Nota mesmo é o que menos importa, é apenas um detalhe. Leio porque é importante para a compreensão do país, poxa. Um país cheio de problema e eu vou me preocupar com nota? Pow, sacanagem. Deixa eu ler aqui o Raízes pra eu ter propriedade pra entender de onde vem esse caráter sacana dos políticos? E mais, por que a gente vota neles?

Penso que mesmo assim, pode-se garantir um emprego sim, com essa filosofia de vida. Deixando de se preocupar com nota, IRA¹, se bem visto e se vestir bonitinho, pode-se até não conseguir ser bem visto pelos professores, mas com certeza são preocupações a menos que a pessoa tem na vida. A vida já é tão dura, pra que se preocupar com besteira? Vamo aqui assistir um filme. Vamos pro bar comentar como esse livro é massa. Isso dá muita corda à muita conversa. A pessoa é até capaz de ficar inteligente, penso eu.

Percebem em como as preocupações mudaram de foco?
Não é que uma geração está certa e a outra errada. Não é isso.
É só o discurso que muda. É muito mais fácil lidar com o outro se você compreender como a cabeça dele funciona.
Vocês estão me entendo?

A minha mãe só sossegou quando fez o meu irmão ficar vergonha e ficar a tarde e a noite trancado no quarto fazendo os exercícios em branco. Quando ela foi dormir eu fui falar com o pivete. Disse tudo o que escrevi nessas linhas mal-escritas. Incentivei a ele estudar só se ele quisesse. Nisso de falar como foi a década de 80 no Brasil, fui explicando pra ele história, passei para desintegração da União Soviética, depois expliquei pra ele o que era capitalismo, passei para revolução técnico-científica, Issac Newton e tudo mais. Tentei explicar que tudo é mais ou menos conectado. Estudar física pode lhe fazer compreender a estudar história. Sim, eu, Filipe, acredito que sim. Meu irmão gostou de saber que se estudar pode acabar ficando tão inteligente quando o irmão-sabe-tudo. Penso que agora ele tem um motivo melhor para aprender todas aquelas fórmulas do Movimento Circular Uniforme.

Dizer que o livro e mensalidade eram caros não ajudou em nada. Nem comigo no meu tempo, nem com o pivete agora. Se o livro tivesse sido identificado como símbolo da liberdade e compreensão do mundo, aí sim, eu poderia ter sido um bom aluno quando criança.

Comigo, eu mesmo não ligo muito se vou conseguir diploma ou não. Gosto de ir para a faculdade mais para conversar com meus amigos e trocar uma idéia com o pessoal dos outros cursos do que para assinar a lista de presença. Eu não sei pra onde isso pode me levar, mas é o que me faz acordar todo dia e pegar um ônibus lotado. E no dia que eu não estiver mais afim, mudo de curso de novo.



__________________
¹ IRA: Índice de Rendimento Acadêmico ou O modo pelo qual a UFC encontrou para medir a inteligencia dos alunos.

Esse texto foi escrito ao som de Titãs, Cartola e Javipior

sábado, 24 de setembro de 2011

Deixem-se perder nas suas naturezas selvagens.


            Foi um domingo nublado, melancólico e entediado, assim como este que vos escreve. Eram lá pelas 5 horas da tarde e eu estava passando os canais da TV a cabo desinteressadamente, até que me contive em um título que me interessou. O título era "Na Natureza Selvagem" como vocês bem devem conhecer. Pensei comigo mesmo, vou assistir 10 minutos para ver se vale a pena, quando fui perceber já tinham se passado duas horas, era noite e o filme havia terminado. Lembro-me de ter me sentido muito bem e de ter sido alvejado por um turbilhão de pensamentos. É sério, fiquei perturbado mais de um mês e acho que ainda depois de passado algum tempo ainda não me recuperei de todo. Falarei mais adiante sobre esses aspectos, agora passemos aos aspectos técnicos.
O filme da Na Natureza Selvagem (Into The Wild) foi lançado em 2007, baseado no livro homônimo de Jon Krakauer. Krakauer foi o senhor que ficou encubido de escrever um artigo em um jornal sobre um jovem que foi encontrado morto em um ônibus abandonado no meio de uma floresta no Alasca. A direção foi maravilhosamente feita por Sean Penn e a trilha sonora foi especialmente feita para o filme por Eddie Vedder, para quem não sabe vocalista do Pearl Jam.
Sem mais tardar, falemos do intrigante Christopher McCandless que no filme é encenado pelo ator Emile Hirsch. Christopher após se formar na universidade decidiu viajar pelos Estados Unidos pegando carona. Doou 24,000 dólares da sua poupança para uma instituição de caridade e destruiu todos os seus documentos, adotando a alcunha de Alexander Supertramp (Super vagabundo). Nas suas andanças ele conhece muitas pessoas interessantes, travando relações de amizade intensas e verdadeiras, daquele tipo que nos muda para sempre. Alex lia muito e tinha como autores favoritos Thoreau, Jack London e Tolstói. Tais autores influenciaram muito o seu modo de pensar e de agir, as suas convicções e as suas crenças.

Agora vamos a um pequeno vislumbre sobre a mensagem e crítica do filme e conseqüentemente sobre o Supertramp. A crítica vai contra a sociedade, o consumismo desmiolado, os valores que adotamos e tomamos como nossos sem ao menos refletir e, tudo que afasta o ser humano da sua real essência. Se graduar em uma faculdade, ter uma carreira, ter filhos, ter um carro do ano e um celular de última geração, ter roupas de marca...é isso realmente o que você quer? É isso realmente que te satisfaz? Ou você tem tanto medo de ser você mesmo, tendo receio do que seus pais, os vizinhos e sociedade vão pensar e julgar? Deve ser por isso que a maioria das pessoas se deixa levar pelo turbilhão da vida moderna, quando percebem que estão com 40 anos e nem ao menos se conhecem, preferiram silenciar as suas essências com bens materiais. Bens materiais não preenchem o vazio existencial de ninguém, apenas as experiências mais primordiais, sublimes e cruas somente encontradas nos pequenos desenlaces da vida. A amizade verdadeira, contato direto e sincero com a natureza, um grande amor não são conseguidas com dinheiro. É eu sei, eu me empolgo.
Alexander Supertramp viveu e morreu pelo que acreditava. Será que somos capazes de viver e morrer pelo que acreditamos? Para a maioria é mais fácil e cômodo não refletir sobre esses assuntos, pensar em coisas como libertação, essência e autonomia são chatas demais!
Se me permitirem, não paro mais de escrever. Só gostaria de fazer as últimas considerações. Na Natureza Selvagem é um filme bonito, sensível e poético que meche profundamente com você. É realmente uma obra de arte. Leiam o livro também, até empresto o meu se quiserem. Não sou tão difícil de encontrar. Gostaria de compartilhar essa história com o máximo de pessoas que eu puder.
Na Natureza Selvagem (Into the Wild) 2007



sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Joshua Hoffine e o Seu Terror Fotográfico

Seguindo, então, a linha do que o que importa é a criatividade com a junção da minha paixão louca por filmes de terror e etc, mostro pra vocês Joshua Hoffine.



Joshua é americano, cria, produz e fotografa e garante não usar edição em suas fotos assombrosamente assustadoras. Ele transforma pesadelos reais em fotografias, faz os cenários e caracterizações serem muito reais e se utiliza da iluminação para provocar terror. Joshua não trabalha com edições e montagens, só faz pequenos retoques de contraste nas suas fotos.



Os detalhes são o que mais impressionam, cuidadosamente a equipe trabalha para transformar as cenas em realismo. Cada série de fotografia parece a criação de um curta-metragem, e na base do trabalho de Joshua há inspirações entre as animações infantis e clássicos de horror hollywoodianos. 



Fotografia é que nem música, cada um tem seu gosto e opinião. Joshua impressiona pela sua capacidade imaginativa, que pode agradar os fãs de filme de terror e deixar muita gente sem dormir. Entretanto, já ouvi criticas ferrenhas ao seu trabalho como artista, pelo fato de se ter muita coisa ‘bonita’ a ser fotografada no mundo, como se fotografar terror fosse de cruel gosto. Acho que Joshua tem um bom gosto peculiar ao saber montar as fotos de acordo com seus pesadelos mais terríveis. E ele é, sem dúvida, de um invencionismo invejável. 

Outras fotos:








Links de importância

Site Pessoal do Joshua : http://www.joshuahoffine.com/

Blog do Joshua http://joshuahoffine.wordpress.com/


Ah, Joshua tem a ajuda da família que está sempre em suas fotos, primos, sobrinhas, filhos... Esses são os atores principais dos seus pequenos filmes de terror em um só click.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

"Rei Lião"



Quem me conhece sabe que eu não torço por nenhum dos times da capital do nosso estado, mas depois do jogo contra o CRB (Clube deRegatas Brasil) tenho a coragem e a indignação necessária pra dizer que o time do Fortaleza MERECE a série D do campeonato brasileiro.

Na última rodada da série C o Fortaleza dependia de uma combinação de resultados para não ser rebaixado, assim como o Campinense, que venceu o Guarany e, portanto, ia se mantendo na terceira divisão. Infelizmente nem tudo são flores. Com a vitória de 4 a 0 do Fortaleza sobre o CRB o time de Campina Grande foi rebaixado.

Até aí tudo bem se você não assistiu à partida realizada no estádio Presidente Vargas. Ao voltar para o segundo tempo, depois de um 0 a 0 na primeira etapa, o Fortaleza estava usando seu uniforme reserva, mas teve de trocar após pedido do árbitro Gutemberg de Paula Fonseca, ou seja, 13 minutos de atraso, o que deu ao time cearense a vantagem de saber o resultado da partida do Campinense, adversário direto na fuga do rebaixamento.

Durante o segundo tempo dois jogadores do CRB foram expulsos, Paulo Rodrigues, pelo segundo cartão amarelo, e o goleiro Cristiano, por, segundo o juiz, ter tentado chutar a bola na direção do gandula (pelo menos é o que tem na súmula da partida (Clique Aqui e veja). Já nos minutos finais, quando o placar do jogo já marcava 2 a 0, o Fortaleza conseguiu marcar os gols de que precisava para escapar da série D, já sabendo de quanto o jogo em Campina Grande havia terminado.

Depois de uma arbitragem (vergonhosamente) questionável e supostas acusações de suborno eu posso afirmar que o jogo foi no mínimo, se é que já não seria um eufemismo, esquisito. Mas como eu não estou aqui para botar ideias na cabeça de ninguém deixo aqui o vídeo dos últimos 13 minutos da transmissão, sem cortes, da TV Pajuçara, de Maceió. Veja e tire suas próprias conclusões, é melhor.

Mas se você é torcedor do Fortaleza aproveite e faça suas piadas com o time do Ceará agora, já que o São Paulo ganhou por também por 4 a 0 sobre o time do porangabuçu, pode ser que o Leão ainda jogue na série D. Sim, porque a diretoria do Campinense já decidiu que vai entrar com uma ação contra o time do cearense e diz ter provas suficientes para comprovar suas acusações (TOMARA).


quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Um festival de festivais

Voltando aos planos iniciais da semana passada...

Eu não sei vocês, mas eu já percebi cá pelas minhas contas que o mês de outubro costuma ser o mais interessante e agitado do ano em Fortaleza. E é nesse abençoado mês que vão acontecer os quatro festivais mais esperados (tirando o Rock In Rio, claro!, porque esse não está dentro das condições econômicas da maioria de nós): Oktoberfest Ceará, Jeri Sport Music, Festival das Juventudes e Festival de Cultura da UFC. Calma, você não vai precisar passar o resto do seu tempo livre me lendo falar sobre todos eles. A grande estrela do dia vai ser o Festival das Juventudes.

O Festival não é, afinal, feito só de shows. Tão importante quanto saber que Arnaldo Antunes e  Lenine vão nos dar o ar de suas graças, é saber que existe um evento maior por trás disso, promovendo debates, oficinas e troca de ideias. Para conhecer melhor o evento, é importante entender qual é a sua proposta e o que rolou na primeira edição, em 2010.

O Festival das Juventudes é acima de tudo um encontro. Um encontro de jovens. Jovens de todos os lugares, de todas as idades, de todas as raças, de todos os movimentos. E o intercâmbio de ideias é a intenção maior. O tema do evento no ano passado foi “América Latina e as lutas juvenis”, que propôs a troca de experiências das diferentes formas de organização da juventude brasileira e de outros países da América Latina. Os debates e oficinas oferecidos (classificados como “atividades autogestionadas”) trataram não só de questões políticas e sociais, mas também de dança, fotografia, música e outras artes; e uma das conferências organizada pelo evento tinha como título “Mobilização Social: A Participação da Juventude nos Processos de Mudança na América Latina”. (A programação completa e os nomes das bandas que tocaram no ano passado aqui)

O tema deste ano será “O Canto de um novo mundo”. Nas palavras dos próprios organizadores, “a palavra “canto” significa música, expressão de vontades, anseios, ideias. Mas também pode lembrar canto significando lugar, espaço, momento. O Canto onde é possível cantar, um lugar que ao invés de ter silêncio dos dias atuais, do capital que espolia os povos e coíbe a nossa capacidade inventiva, prevalecerá o canto das juventudes.” Lindo, né? 
Os nomes das oficinas e debates e a programação definitiva ainda não foram divulgados, mas o que já se sabe é que em se tratando de música o festival não vai deixar a desejar. Alguns dos nomes confirmados são Lenine, Mart’nália, Arnaldo Antunes e Ponto de Equilíbrio.


O Festival das Juventudes acontece entre os dias 08 e 11 de outubro e oferece espaço de acampamento e refeições com preço camarada (R$3). 

Simplesmente im-per-dí-vel!


PROGRAMAÇÃO PRA SEMANA

terça-feira, 20 de setembro de 2011

O livro que NUNCA acaba

Já aconteceu com você de lhe contarem uma história fabulosa/incrível/maravilhosa, que lhe deixou super empolgada(o)? Aí você descobre que aquela história fantástica é de um livro, e o que você faz? Vai direto atrás de ler aquilo porque você achou muito, muito legal. Então, você finalmente está com o livro em mãos, começa a ler e.... zZzZZzzz... dorme! ¬¬
Na verdade, não mentiram pra você; a história REALMENTE é muito boa. Mas a leitura é chaaataaa....

Entretanto você é guerreira(o) e não vai desistir da leitura assim tão facilmente. Então você lê. Lê. Passa uma página. Mais uma. E outra. E... você não saiu do lugar!! 
As páginas se multiplicam, o livro aumenta de tamanho, as letras diminuem. Aí começa a bater aquele desespero:  "ESSE LIVRO NÃO ACABA NUNCA?".

Você pára. Respira. Mede a grossura de folhas lidas e de folhas a serem lidas. E não é que você já está na metade...
A coragem se restabelece. Você respira fundo, toma fôlego, volta à batalha e... zzZZzzZz... é mais uma vez vencida(o) pelo cansaço. "Mas eu já cheguei tão longe... tá faltando tão pouquinho..."

Água no rosto, xícara de café na mão. Um mês se passou e você FINALMENTE conseguiu terminar aquele livro*!!! Foi uma luta árdua, tensa e dolorosa, mas você conseguiu, venceu!

"Gente... consegui terminar de ler o livro!!"
"Comassim conseguiu, cara pálida? Esse livro só tem 100 páginas!"

É... acontece!
Já aconteceu comigo.
"Viagens de Gulliver", "O Morro do Ventos Uivantes", "Geração Beat", "O Historiador", "Madame Bovary", "Aves de Arribação". Esses foram alguns dos MEUS desafios.
Livros realmente bons, com histórias fantásticas, mas... não tão dinâmicos assim. Seja pela quantidade de descrição, pelo tom técnico, pelas pausas narrativas, pouca ação, demora da ação ou pelo simples fato de o autor enrolar demais pra falar uma coisa que ele poderia ter resolvido em um parágrafo.
Mas há quem tenha adorado a leitura. É tudo questão de compatibilidade.

Os meus desafios. E até que valeram a pena...

A reflexão desse post é: Por isso que tem gente que não gosta de ler. Não é que ler seja ruim; a pessoa que teve o azar de ter tido um experiência dessas e de não ter insistido para ter o prazer de pegar um livro compatível com a sua própria dinâmica de leitura.

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*Geralmente eu leio um livro em, no máximo, uma semana.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Arsenic, o melhor do rock cearense?

Para quem não sabe, o programa global “Caldeirão do Huck” promoveu o concurso “Olha a Minha Banda”. A final do concurso foi ontem e a banda campeã teria o privilégio de tocar para milhares de pessoas no Rock n’ Rio. A vencedora foi a banda Arsenic, que passou pra trás as bandas Gritos de Paz, Agnela e Tri. Temos, então, uma banda que teoricamente “representa” o Ceará no festival com alcance nacional e internacional. Até aqui, tudo muito lindo não?

É agora que convém explicar as aspas que acabei de usar. Estou pronto, podem atirar as pedras, como diria nosso colunista Filipe Fernandes.



Porque acontece o seguinte: quando se trará de representar algo  acredito que o que representa esse algo deve conter no mínimo alguma característica dele. Me pergunto então, o que a banda Arsenic tem do Ceará? Letras?...não. Características sonoras ou instrumentos?....também não. Povo da cabeça achatada?...nem isso!

Nessa história, tem algo mais grave. Representar pode significar, também, ser o melhor, a referência em algo. A banda Arsenic é, então, referência no rock cearense? Como ter um sim para essa resposta se a banda produz um rock “fofo”, que não se difere muito do que já é mostrado por NX Zero ou Fresno? Como a referência do nosso estado pode ser algo tão igual ao que já faz sucesso e é comercial em escala nacional? Como aceitar essa tendência a uniformizar todos os sons apenas para satisfazer o grande público?

Se pelo menos não tivéssemos por aqui bandas que buscam um som diferente, singular, que lhes dê identidade, mas isso existe. E nem precisa ser algo tão “anticomercial” ou complexo, basta saber aliar  a comercialidade sem perder a originalidade e sem deixar de inovar, ainda que de forma tímida. A banda que me vem à cabeça agora é Selvagens à Procura da Lei. Com um som simples, porém original, os caras procuram letras bem elaboradas que fazem referência à Fortaleza, ao amor efêmero, ao sexo e coisas que vão muito além do “não me deixe só, tudo que eu quero é você”. Além disso, não escondem o sotaque fortalezense ao cantarem suas canções, o que vai contra a tendência quase involuntária dos vocalistas das bandas de rock de minimizarem seus sotaques regionais e cantarem à paulista ou carioca.



O que me conforta é saber que a Arsenic não foi escolhida com o critério de ser a melhor banda do nosso estado. Sei que a escolha envolveu o potencial de vendas da banda em escala nacional, o que, infelizmente, é verdadeiro. Mas junto a isso, um desconforto não deixa de ser incômodo: até quando vamos ver bandas sendo consideradas melhores por venderem mais? Até quando o grande público vai se sentir satisfeito com a mesma música e não vai se cansar dos clichês? Tomara que não demore muito.

domingo, 18 de setembro de 2011

Manhê, faz o meu prato, por favor!

Eu estou muito sentimental esses dias. Não gosto disso. Mas parece inevitável. Botei meu materialismo dialético de lado, vesti a camisa do filho distante e liguei para meus pais. Senti vontade de escrever isso. Um conselho de amigo: são só uns rabiscos sem importância nenhuma, pois, creio, é impossível sentir a dor do coração alheio. Que dirá saudade. Nem ia escrever isso. Fazia tempo que não escrevia assim, sem pensar muito.


Engraçado... quando morava com meus pais, vivia brigando com o meu velho. As brigas eram feias. As mágoas doem até hoje; em ambas as partes. Eram bem feias. Hoje faz muito tempo que saí de casa. Apesar de tudo, estou com saudade.
Dia desses, meu pai fez aniversário. Fiz as contas.
Meu pai nasceu em 1969. Tem então 42 anos.
Eu nasci em 1989. Tenho 21.

Percebi que meu pai tinha 21 anos quando foi pai. A minha idade. Curioso, quando pequeno, eu olhava aquele homem imenso, corpulento, careca, cheio de pêlos no peito, que impunha uma seriedade enorme para comigo, era o símbolo do adulto. E não tinha mais que eu tenho agora, vinte e poucos anos. E não me vejo em nada parecido com um adulto, mesmo tendo quase a mesma idade que o Mariano das minhas lembranças. A calvície já se faz perceber há algum tempo, mas os pêlos do peito não são tão espessos como os de meu pai. Talvez para lembrar que não sou grande ainda.

Não consigo ter toda aquela seriedade, tampouco impor o respeito que aquela figura tinha. E pensar que na minha idade meu pai talvez tivesse as mesmas dúvidas que eu tenho agora. O que fazer da vida, como cuidar de outra pessoa se não cuido nem de mim mesmo, se é mesmo essa mulher com quem vou passar a dividir o sono, o que vou ensinar para o meu filho? Eu mesmo não sei muito bem o que aprendi com meu pai.

Não quero pensar que o que estou sentindo agora é apenas algum exemplo de causa e efeito psicanalítico vindo de uma figura paterna tão presente na infância. Como no caso de Édipo, que tentando fugir de seu destino foi diretamente ao encontro dele. Não quero ser meu pai. Quero ser eu mesmo. Porém, há tanto de Mariano em Filipe que me pergunto até que ponto eu sou só eu. Não sei dizer.

Neste final de semana, não quero a vida independente que estou a construir. Vou viajar para a casa de meus pais. Quero ver meu irmão. Ver o quanto ele cresceu mais do que eu. Quero contar pra minha mãe como estão meus dias na faculdade. Quero lhe falar dos meus planos de viajar pelas cidades quando comprar minha moto. Quero ver a cara da saudade no rosto de minha mãe.

Vou voltar para Fortaleza quando perceber que meu irmão deixou de lado o livro que estou levando para ele. Vou voltar quando minha mãe ligar perguntando onde estou, porque saí e ela não dorme enquanto eu não chegar. Ou ainda quando ela recomendar que faça a faculdade direitinho que eu já desisti de uma e ela quer me ver formado.

Amor de mãe é bom, preocupação de mãe já é demais.

Quanto ao meu pai, nunca conversei muito com ele. Todas as conversas terminam geralmente em discussão. Quero abraçá-lo e procurar o que há de Filipe em seu rosto. Quero sair com ele de moto para algum interior, para a gente comentar como é seco o sertão, mas que depois de algumas chuvinhas fica lindamente verde, ou chegar em algum barzinho de algum povoado perdido, pedir uma cachacinha tirando o gosto com algumas daquelas comidas de interior. Quero ver se alguma pessoa ainda me chama de Marianinho, pois meu avô se chamava Mariano, meu pai é Mariano Filho e ninguém sabe meu nome. Quero que ele me conte de alguma história do vovô, que em muitos momentos o meu vô foi meu segundo pai. Viajou muito, o vô. Deixou de viajar só quando casou, isso perto dos cinqüenta anos já. A primeira vez que vi meu pai chorar foi quando meu avô morreu. Do que meu avô brincaria comigo hoje? Gostava demais dele.

Vou voltar assim que começarem a primeiras ironias, ou quando papai reclamar dizendo que eu era pra ser diferente do que sou hoje. Quero só coisas boas. Preciso disso. Preciso que meu irmão fique me perguntando sobre as coisas que ele tem dúvida, preciso que minha mãe faça meu prato no almoço, que meu pai diga que quer que eu pilote a moto porque ele está com preguiça de guiar.

A vida é tão dura às vezes que eu não me dou o direito de endurecer ainda mais.

De uma hora pra outra decidi escrever o texto e viajar ao interior depois que me fitei gravemente no espelho do banheiro. A barba a crescer, algumas pequenas cicatrizes já; certa olheira no rosto. Estaria eu, com 21 anos, passado já dos 40?

E penso, com destacada melancolia, quando eu tiver quarenta, quarenta e poucos anos, como vou ser sentimental¹.

Tudo papo furado, eu sei. Certas pessoas expressam tão mal o que sentem que melhor seria se ficassem caladas. Esse é o meu caso.

Outras pessoas, porém, expressam os próprios pensamentos tão bem, que sua escrita passa a ecoar nas bocas daqueles que não sabem falar poesia.



O Velho do Espelho

Mário Quintana

Por acaso, surpreendo-me no espelho: Quem é esse
que me olha e é tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto... é cada vez menos estranho...
Meu deus, meu deus... parece!
Meu velho pai!
Como pude ficarmos assim?
Nosso olhar - duro – interroga:
“O que fizeste de mim?”
Eu, pai?! Tu é que me invadiste,
lentamente, ruga a ruga... que importa? Eu sou ainda
aquele mesmo menino teimoso de sempre
e teus planos enfim lá se foram por terra.
Mas sei que um dia vi sorrir, nesses cansados olhos, um orgulho triste... 

_______________
¹Luiz Fernando Veríssimo


 Esse texto foi escrito ao som de Lobão e Legião Urbana.

sábado, 17 de setembro de 2011

Faça sua escolha!



Quem nunca passou por momentos em que se deve impreterivelmente escolher qual caminho seguir? Mesmo sem saber aonde se vai chegar. A vida é isso mesmo, um turbilhão de possibilidades e de escolhas. No entanto, os nossos destinos não nos pertencem por inteiro. Somos influenciados e pressionados a todo o instante pela sociedade, pela família, pelos amigos, pela religião e etc... Todos querem que supramos suas expectativas. Um saco não?

Trainspotting (1996) fala justamente sobre escolhas. A história gira em torno de Mark Renton (Ewan McGregor), seu grupo de amigos desajustados e a sua epopéia pessoal para largar o vício em heroína. Ao contrário do que a sociedade atual elegeu como sonhos máximos de felicidade como ter uma família, obesidade, ter um trabalho, ter um plano dentário e comer porcarias em frente a TV. Esses jovens preferiram o mundo de incertezas, felicidade momentânea, sem responsabilidades, de roubo e de brigas de bar. De uma certa forma autodestrutiva, os personagens tentam se evadir da realidade, pois não querem se adequar a sociedade consumista e hipócrita que é a capitalista (quero deixar bem claro que não sou metido a comunista e nem nada, só falo o que se pode ver todos os dias, é só se querer enxergar). 

O filme é dirigido por Danny Boyle, que também dirigiu Extermínio (2002), Quem Quer Ser um Milionário? (2008) e 127 Horas (2011). O que muito me chamou a atenção, fora o roteiro que é muito bem adaptado do livro homônimo de Irvine Welsh, foi o desenrolar super dinâmico do filme, seguindo os fluxos de consciência do personagem. Os ângulos de câmeras também são bem interessantes e experimentais. 

Muitos podem achar que o filme faz uma apologia ao uso de drogas, a vagabundagem e tudo o mais. Eu vejo de uma forma diferente. Vejo a mensagem do filme como sendo para que não nos deixemos levar, tomemos as rédeas e façamos o que nos fazem feliz sem querer agradar a sociedade, a família ou quem quer que seja. A vida não é feita de pólos positivos e negativos, bem e mau, cidadão padrão e desajustado, a vida é sempre a busca de um meio termo. Se minha opinião tem alguma serventia, recomendo muito esse filme! 

P.s: Trainspotting na gíria escocesa, é uma atividade sem sentido, algo que é uma total perda de tempo.

Trainspotting (1996):


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Ao querido Henri,




Henri nasceu em 1908, em algum subúrbio em algum lugar da França. Aos 22 anos, Henri foi à África brincar de caçador, empunhando uma arma, uma Leica[1] milagrosa, pequena, leve. Na II Guerra Mundial, Henri vestiu uma farda e foi à luta, foi capturado e levado a um campo de prisioneiros. Mas, Henri não era desses homens que desistem fácil, tentou fugir três vezes, e na terceira conseguiu, juntou-se a guerrilha da resistência francesa pela liberdade. Henri foi pintor, estudou literatura, mas quando fez as suas primeiras fotografias, optou por fazer arte através delas. Aos 39 anos, fundou uma agência fotográfica, e assim desenvolveu o olhar. 


Viajou, procurando uma expressão do mundo em termos visuais capturados em uma fração de segundo para dar, enfim, ao sensitivo e ao intelectual um significado. Influenciado pelo surrealismo, explorou o significado velado embaixo da epiderme do cotidiano. Quando Henri apertou o click, revelou algo escondido, invisível ou perdido, como o marginal pode transmitir beleza, e como.

Ele trabalhou pra grandes revistas, Life, Vogue, Harper’s Bazaar.  Então, Henri ficou conhecido como o grande Henri Cartier-Bresson, o fotógrafo que congela os momentos decisivos. O homem que faz arte com uma câmera e consegue, por fim, usar a intuição, a técnica e a disciplina a favor da sua imagem. 

Por que, Henri capturava momentos. Em suas mãos, o retrato fotográfico é transparente, incisivo, direto, como se nenhum fotógrafo estivesse entre o olhar do fotografado e o observador. 

Henri tem o poder de furtar a essência do ser com a sua câmera, um mágico que fez a captura do âmago e do sentimos que cada retrato que nos faz acreditar que está ao nosso alcance. Todas as suas fotos são compostas com a simplicidade genial de quem esmaga a realidade, sem fazer barulho, sem exibição. A foto é um tiro certeiro e inesperado.


Marilyn. Linda.
Fotografou Coco Chanel, Gandhi e Marlyn Monroe e diversos anônimos com a mesma curiosidade sem fim e com o mesmo olhar intransigente. 

A fotografia era a arte que conseguia produzir e com a arte de olhar. Para ele, há interrogação em todos os lugares, e nada é conclusivo. Henri era juvenil, mas sábio; mordaz, mas sensível. A fotografia, ele dizia, ser um presente do acaso e devemos tirar proveito do acaso. Ele via, através do visor da máquina fotográfica, as pessoas completamente nuas, sinceras, únicas.



Henri morreu em uma segunda-feira, dizem que já mal se alimentava. Henri confidenciou a um repórter, anos antes, que não tira medo da morte, e sim da dor. Ele morreu dormindo, tinha 95 anos.




[1] Uma câmera pequena, comum na primeira metade do século XX, justamente para passar despercebido, para não perder a fluidez do momento.







Coco Chanel (1964)



Ps.: A primeira foto é um print de um documentário fantástico sobre o nosso Henri, o nome é: Just plain Love, o link é:
Ps2.: as seguintes fotos são do próprio Henri Cartier Bresson.

Quem quiser uma biografia pela Wikipédia aqui está: http://pt.wikipedia.org/wiki/Henri_Cartier-Bresson