domingo, 6 de novembro de 2011

Eu não sei dizer o que quer dizer o que vou dizer

Como disse certa vez a uma garota a quem estava falando do meus sentimentos para com ela, isto o que tenho para dizer é ridículo. Sinto mais facilidade em falar sobre a dialética idealista de Hegel do que das coisas que se passam em meu coração, que tem mais reprises do que esperanças.
 
Eu amo você. Mas não sei o que isso quer dizer. Bora lá. São 03:35 da manhã. Tenho que acordar cedo amanhã (ou hoje, piada infame). Tenho que ir ao médico bem cedo. Mas não consigo dormir. Todo mundo passa por isso. Ou não, né? Tem gente que eu conheço que parece ser se sentir mais seguro se não deixar transparecer. Faz tempo que não sentia isso.

Estava conversando com o Tiago hoje mais cedo. Estávamos passando pelo mercado dos pinhões. Muito bom lá. Estava tocando Fagner. Era aquela, quando penso em você, fecho os olhos de saudade, tenho tido muita coisa, menos a felicidade. Ele comentou comigo, você vê né? O que seria da música se não fosse dor-de-cotovelo?

Dia desses estava conversando com outro amigo meu. Ele terminou com a namorada e veio conversar comigo. Disse que assim que se viu na fossa pensou em vir falar comigo. Afinal, eu sabia como era se sentir assim. Porra, esse cara não é o primeiro com dor-de-cotovelo que vem me pedir orientação. Porra velho, como assim? Será que ele pensou: deixa eu ver... alguém que tem experiência em ficar na fossa por causa de mulher... já sei... o Filipe! Como assim? Será que eu tenho cara cantor de brega de bordel?

Essa aqui é legal, a primeira vez que a ouvi foi naquele ótimo filme O Resgate do Soldado Ryan, Edith Piaf. Perfeita. Às vezes, a lembrança que me traz essa música me faz enveredar pela madrugada lembrando até do que não vivi, pensando em nós dois. Sabe, posso parecer como quem não passa sem um rabo de saia, mas eu tenho coração. Como já disse outra vez, tinjo-me de vadio, mas sou romântico. Romântico no sentido mais caricatural mesmo. Um romantismo bem próprio, admito. Minhas características mais utópicas são as que me definem como ser. Do modo mais caricatural possível, claro.

Eu disse, cara, ficar desse jeito é pior pra ti, esquece ela, cara. Pode deixar Filipe, eu sei ficar na minha, não deixo transparecer não, posso estar aqui na fossa por causa dela, mas não deixo ninguém saber que estou assim, sou duro na queda, ela não vai encontrar ninguém que a ame como eu a amo, ninguém sabe o quanto choro à noite, nem ela. Respondi: Tu é muito é burro cara, continua se martirizando, o que adianta se fingir de durão e ficar sentindo pena de si mesmo? Continua pior pra ti, do mesmo jeito, tá se fudendo do mesmo jeito. Tem que ir além, não ficar nessa coisa de ninguém sabe a dor que eu sinto, isso é muito é ladainha de quem não quer admitir a própria pequenez e futilidade. Ele: Eu não sou fútil. Geralmente só quem me entende quem é bem próximo a mim. E olhe lá, alguns concordam comigo por pura consideração que tem à amizade, creio eu. Não que eu espere que minhas idéias sejam difíceis de entender, mas que eu sei que elas vêm de um grande ressentimento para com o Ser Humano. Aí sim! Eu sei que nem todo mundo tende a depreciar tanto o Ser Humano, e por extensão, depreciar tanto a si mesmo por ser Humano. Essa é a base de toda a minha filosofia. Qualquer Ser Humano seria muito mais feliz se não tivesse nascido. E como bem disse Renato Russo, Tudo é dor e toda dor vem do desejo de não sentirmos dor.

Millôr Fernandes já disse certa vez, com propriedade: Três coisas incompreensíveis: gota d'água no mar, grito no meio da noite, dor no coração alheio.

Agora, saca só essa letra, porque, sinceramente, não quero colocar o vídeo.
Chora, me liga, implora
Meu beijo de novo
Me pede socorro
Quem sabe eu vou te salvar
Chora, me liga, implora
Pelo meu amor
Pede por favor
Quem sabe um dia eu volto a te procurar


Música boa é justamente aquela que serve como meio de comunicação entre a dor que o artista sente e o sentimento que você, que escuta, leva no peito. Mais ou menos como disse Mário Quintana, Porque, ao ouvir alguém que consegue expressar-se com toda a limpidez, nem sentimos que estamos ouvindo uma música, é como se a estivéssemos pensando.


Não sei por que, mas a maioria das músicas que gosto são de dor-de-cotovelo. Há uma espécie de entrega ridícula nas declarações desesperadas de amor. Às vezes nem sempre desesperadas, mas quase sempre ridículas; sim, pois por mais que seja sublime o sentimento que ainda se sente, é nada mais que uma esperança de reprise de um sentimento que já acabou; acabou sim, por que não existe mais relação a partir do momento que o sentimento se torna unilateral. A única coisa nobre a se fazer reconhecer a pequenez e mediocridade e, como fez o poeta, transformar toda essa merda em melodia.

Mas, como para toda afirmação, há uma crítica, há no mundo um sem-número de pessoas de se acham muito nobres, nobríssimas, por pensar que o amor que sente pelo ente perdido é algo que lhes faz especiais e únicas no mundo. Como uma espécie de últimos dos moicanos, ou alguém que é o ultimo dos transparentes nesses tempos de opacidade. Algo muito parecido quando alguém fala ninguém sabe o quando eu sofro. Ninguém sabe mesmo, afinal é uma coisa que só você sente; mas falar isso como motivo para dizer que ninguém é capaz de sentir o mesmo que você, isso já é sacanagem. Como se o valor do sentimento que tem é totalmente cooptado para o próprio bel-prazer do que para a pessoa que fez surgir esse sentimento. O sentimento que se sente é algo que a pessoa se orgulha de ter e acaba se tornando justificativa para uma auto-idolatria cheia de um lirismo de plástico.

Você é especial e único. Assim como todas as outras pessoas.

Não sei bem dizer, há qualquer coisa que nos une em matéria de sentimento, todas a pessoas sentem algo por alguma pessoa, mas não se deixar levar pelo egoísmo é algo que me admiro muito. Pra ser sincero, de todas as pessoas que conheci, só vi esse desapego pelo egoísmo em duas, que também não vale a pena dizer quem são, afinal, sou muito suspeito. Uma delas é a única mulher que foi realmente sincera comigo, e por casa dela foi que criei todo esse sistema filosófico do egoísmo de meia-tigela. Agora fica a questão... meia-tigela é o egoísmo ou o sistema filosófico?

Sim, porque não há como escapar das paixões, tanto da paixão que se sente por uma pessoa em especial, tanto quanto pela paixão que se sente por si mesmo. Sem falar nas paixões ideologias, que podem ser bem mais ferinas. Os regimes criminosos não foram feitos por criminosos mas por entusiastas convencidos de terem descoberto o único caminho para o paraíso. Defendiam corajosamente esse caminho, executando, por isso, centenas de pessoas. Mais tarde ficou claro como o dia que o paraíso não existia e que, portanto, os entusiastas eram assassinos. Algo muito parecido com as pessoas que matam por amor, ou então as que matam a si mesmas. Que final romântico: morrer de amor.

Mas o que há de sublime nisso tudo é justamente dizer-se egoísta, dizer que meu sentimento que tenho por você não vai fazer você mais feliz, talvez até sinta-se um tanto desprezo por saber que nutro um sentimento impossível, que é sem sal o sentimento que nos é dirigido sem que sintamos algo reciprocamente, não, não vai fazer-lhe feliz, mas o melhor de tudo, vai me fazer feliz.

Certa vez, estava com uma menina. Até gostava dela. Mas não tanto para deixar de abraçar minhas amigas mais chegadas. Cheia de ciúme, ela falou você não tem medo de me perder? Egoísta todo mundo é, mas algumas pessoas parecem que se esforçam. Todo mundo um dia se perde, faz parte da vida, perder e às vezes encontrar; mas se você acha que meu sentimento por você resume-se ao fato que me importo unicamente por você, está totalmente enganada.

Como de costume à maioria das pessoas com quem converso, ela não entendeu. Foi embora pensando que não ligava a mínima por ela.Eu gostava dela, muito até. Quem é muito egoísta tem esse defeito, quer todas as partes para si. Se estiver faltando uma parte, acha que não tem nada. Somos, sejamos,egoístas, mas para si mesmos, não vamos terceirizar nosso ego, ok?

O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece.

Por isso digo: Eterna Bem-Amada, nessa insônia a que me cabe, deve estar a dormir agora, quem sabe com outro, mas isso já não mais me cabe, deixo que me invada só você o meu pensamento, pois só desse modo você pode falar no meu ouvido coisas que me fazem fechar os olhos. Para amanhã eu sair pelos bares e olhar para as saias, coloridas pelo sol.

Aposto que não vai se importar.

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