Mês de dezembro, tempos muito felizes para os comerciantes, onde no ar surgem ecos mórbidos que dizem a todo instante: "Espírito natalino! Espírito natalino! Espírito natalino!". Tudo muito vazio de significados e de sentimentos reais, uma época sempre muito cinzenta para mim.
Feliz Natal é o longa-metragem de estréia de Selton Mello, no qual admiro como diretor e que também assisti recentemente outro trabalho seu O Palhaço, que talvez comente por aqui um dia desses. Ganhou o Festival de Paulínia na categoria de melhor direção de fotografia em 2008.
Caio interpretado por Leonardo Medeiros é um homem atormentado por seu passado, por tudo que deixou para trás. Na noite de natal resolve ir visitar a família depois de anos de exílio no interior trabalhando em um ferro-velho. Surpreende a todos com o seu retorno, pois nunca se é esperado a volta de fantasmas a muito tempo esquecidos.
Assuntos inacabados precisam ser enfrentados, pois resolvê-los parece uma utopia das mais exageradas. Caio é culpado pelos familiares por todos os males, mas a família já estava desestruturada a muito. É incrível como eventos como o Natal mostram com máxima nitidez os pontos podres e embolorados existentes nas famílias.
Feliz Natal é um filme triste em todos os sentidos, parece não haver saída e nem esperança. Talvez a única solução seja seguir em frente, já que o que já está feito não tem conserto. Gostei muito do filme, pois compartilho com ele muito do penso sobre o Natal, onde as aparências são mantidas até as últimas instâncias.
Demora-se 8 minutos até podermos ver o rosto do personagem principal. Enquanto isso, acompanhamos ele sempre de costas ou ao longe. Explicação possível poderia ser porque nem ele saiba quem realmente é, indo em busca de respostas em uma noite de natal. Talvez não tenha tido resposta alguma, mas tentou e pode fechar velhas feridas. A melhor definição de Natal que já vi é dita pela mãe de Caio na ceia do dia pós-véspera, no qual a comida é requentada e se aproveita as sobras do peru: "Natal é um aniversário em que ninguém se lembra do aniversariante."
Para além de significados religiosos e moralistas, o natal devesse ser encarado de forma crítica e mais consciente. Luzinhas, pinheiros cheios de neve, velhos gordos de vermelho e falsos sorrisos não me apetecem, perdoem-me.
Feliz Natal (2008)
Já vi! Não liguei o nome ao filme, quando tu me falou.
ResponderExcluirEsse filme é denso, pesado, e significantemente, pra mim, um dos mais verdadeiros. Dar-te sempre um tapa na cara.
A maneira que se percebe as farsas natalinas e familiares ao longo do filme é divina. (:
E esse ator é lindo demais, hahahaha